MENSAGENS DA PRESIDÊNCIA DA ACE
Mensagem de Posse
22 de setembro de 2020
Renovando mais uma vez meus agradecimentos pela confiança a este honroso cargo, numa instituição muito acima do mais grandioso entendimento que se traduz na Associação Catarinense de Engenheiros, faço a primeira fala. A responsabilidade exige que extrapole alguns conceitos, comportamentos, frente a situação bem complexa que atravessamos e que pretendo resolver, caso positivo, ou apontando soluções até lá, ou resolver em parte, nunca me omitir. Pelo tamanho da tarefa, pela grandeza da ACE, se empregará o maior rigor possível e adequado, no tom das falas até que seus efeitos sejam sentidos, não apenas aqui—pois somos o farol da engenharia de SC, dentro desta escuridão que se prenuncia—mas na atuação profissional de todos. Mais ainda, pelas propostas, se inclui a federalização da marca ACE, cujo processo, inclusive já se iniciou.
Nesta primeira semana de mandato devo colocar em primeiro lugar a parte inicial do mote da chapa que nos levou à direção da ACE: Valorização da Engenharia. Dada a complexidade aliada à urgência da abordagem do tema (que deve ser o dominante nesta gestão), será por partes e a primeira serão “Os Aspectos Sociais da Formação Profissional”. O nome indica claramente que na graduação profissional quero comprovar o nascedouro do problema, mas que problema? se perguntaria. Indico que a Valorização tem duas vertentes: a pessoal e a técnica. Estas duas me parecem indissociáveis, pois se desvalorizando pessoalmente, como se valorizará profissionalmente?
Sobretudo, ao relegar a questão social, referindo à autoestima, do profissional, toda a classe de engenheiros, bem como toda a “rede” de pessoal tecnológico do Sistema CONFEA CREA, por observação própria, se descuida do associativismo ocasionando um lento esfarelamento das associações, agremiações, ou qualquer outra forma de agir em conjunto. Tem exceções, claro, pois desconheço verdade absoluta, portanto nem se pretende a possuir; a culpa não recai exclusivamente da supressão (tanto inexplicada quanto não esclarecida até a presente data) da parcela da ART profissional. Tenho visto muitos candidatos falarem em valorização profissional, sem indicar o que seja, portanto, gerando a falta de compromisso pós eleitoral nesta questão por deixarem de esclarecer seu(s) conceito(s), falhas e origens. A estes me dirijo agora. Este problema se configura no principal causador da situação financeira caótica da nossa associação: ter poucos associados que se apegam como deveriam nesta questão social, afinal, antes de engenheiros de quaisquer matizes, bem como a geólogos, geógrafos, meteorologistas, entre outros profissionais do Sistema CONFEA CREA, somos pessoas!
Assim, continuando, relato alguns fatos testemunhados na minha docência na graduação, agora na UFSC em situações muito frequentes nas engenharias; para exemplificar, mesmo alguns docentes—prefiro os denominar assim porque professor, no meu conceito, age de maneira muito mais adequada—se trajam e se apresentam mal arrumados alguns se recusam, mesmo a escrever corretamente; não são apenas alunos a se comportar, exagerando, como “cidadãos em situação de rua”, docentes, infelizmente agem assim. Tem profissionais que discordam destas ideias e será a estes que me dirijo também. Como uma pessoa, agora como profissional, maltrapilha (exagerando como prometido acima, diria, mal vestida, sem corte de cabelo, dentes em mal estado, por exemplo) pode exigir a seu contratante que um trabalho seja bem remunerado? Quem vai convidar uma pessoa com esta aparência ir a sua casa, ou almoçar num restaurante de bom padrão, entre outras situações; isto seria um padrão de analogia. Tem uma ressalva: se o profissional for um gênio ou uma sumidade no assunto “engenharia” como existem alguns, esta fala não se aplica! Entretanto vejo alguns coroados na UFSC a fazer este papel, sem, evidentemente, ser gênio em coisa nenhuma.
Como se chega a uma situação desta? A resposta vem rápido, pois temos um expert no assunto (mas, exemplarmente, anda sempre bem arrumado, eng eletricista Enio Padilha) que se dispõe a analisar o valor do profissional de modo compreensivo, ou seja, em total abrangência. Usei suas ideias em palestras já proferidas em outras instituições com o título “Subsídios para comportamento frente ao Mercado de Trabalho na Engenharia Civil: a Desconstrução do Engenheiro”; depois, esta, porém com atualizações aqui mesmo na ACE como palestra de abertura do Quarto Congresso Técnico Científico de Engenharia Civil, com o título “Engenharia do Futuro: como chegar lá?” Numa tela se tratou do assunto, nestas colocações; voltemos no tempo (segundo Enio Padilha):
Aos 15 ou 16 anos nosso candidato a engenheiro:
é um estudante exemplar;
elogiado pelos professores;
respeitado pelos pais;
valorizado pelos parentes, vizinhos;
admirado pelo sexo oposto.
O problema se constitui na diferença com o observado na formação de médicos e advogados, que na adolescência podemos dizer que éramos melhores nas denominadas mundialmente como disciplinas duras (como matemática, física, química) que nossos amigos que viriam a se tornar outros profissionais acima. Não éramos pessoas melhores ou piores e sim de genética diferente. Mas, porque ficamos MUITO para trás? Porque nosso curso não nos tornou “semelhante”?
Ainda de acordo com Enio Padilha (www.eniopadilha.com.br), começa na Escola de Engenharia:
A destruição da autoestima;
A se forjar o comportamento autodestrutivo;
Criar o desprezo pelos valores "engenheiro";
Criar o desgosto pela atividade profissional;
Nascer a falta de coragem empresarial;
A submissão aos caprichos dos clientes.
Na universidade, estudantes de medicina e direito: se identificam com pessoas que se vestem diferente, havendo identidade visual e psicológica. Professores: tratam seus alunos por "senhor" ou "senhora" e fazem acreditar e os convencem da superioridade. Estudantes de engenharia passam a sofrer e ter grandes dificuldades, inclusive com devido respeito pelos professores. As faculdades de Medicina e Direito, necessariamente, não seriam mais fáceis. Porém, seus ambientes promovem a motivação e a autoestima de seus alunos; enquanto isto, na engenharia.... “É quase geral, por parte da alguns professores, nas escolas de engenharia, o exercício gratuito de poder e o terrorismo psicológico.” (Padilha) Continua aquele autor, ...”em momento algum, durante esses cinco anos, a escola de engenharia propicia a percepção da mudança de condição de estudante para a condição de profissional”. Para finalizar a constatação daquele autor:
Ao contrário dos estudantes de direito e medicina, estudantes de engenharia passam cinco anos submetidos aos rigores (e, em alguns casos, caprichos) de (alguns) engenheiros que não atuam, profissionalmente e, sim como (maus) professores, não têm a vivência da atividade profissional e não têm a ciência ou a consciência das relações comerciais e profissionais que vão definir o sucesso ou o fracasso dos profissionais que eles estão formando.
Assim, estudantes de medicina e direito durante sua formação, além de ter sua autoestima e motivação constantemente elevadas, já tem uma visão clara do mercado de trabalho (e o comportamento adequado). Por outro lado, sem estes mecanismos de defesa, sem cuidar da autoimagem, sem visão de mercado, sem desenvolvimento de habilidades sociais e gerenciais, o resultado é a perda pessoal, profissional e da engenharia.
Na minha experiência de 37 anos no UFSC como docente, ocupando diversos regimes de tempo (12, 40, 20 horas semanais e Dedicação Exclusiva), bem como cargos diferentes (chefe de departamento, coordenador de estágios, coordenador de pós-graduação), sendo que dezesseis anos em conjunto com a iniciativa privada, notei um lento afastamento da UFSC como um todo se desvinculando da realidade do mercado. Assim como no Canada (onde fiz toda a pós graduação) e países da Europa (Alemanha e Inglaterra, onde fiz intercâmbios), o graduando é encorajado a participar de empresas. Na Engenharia Civil da UFSC, fiz a reformulação total do sistema de estágios copiando o da Engenharia Mecânica (onde comecei a estudar), para integrar o curso à comunidade técnica. Porém, ao voltar da Pós Graduação, encontrei outro, diferente do que planejei. O professor atual das universidades públicas que sai da escola e segue a sequência Mestrado e Doutorado, se afasta da realidade de mercado e fica muito prejudicado para transmitir o conhecimento e experiência porque não as têm.
Os valores passados ou tentados passar ao nosso graduando neste sentido atualmente não são os de engenheiros.
Uma longa discussão seria entorno do bullying por parte de grande parte dos professores, mas por falta de provas, fica evidenciada a necessidade de noticiar e fazer nosso papel, porque, em realidade, na maioria das engenharias (e outras formações tecnológicas) estes fatos ocorrem. Então fica o alerta da necessidade de produzir provas neste sentido, bem como procurar fazer entender as nossas universidades devem mudar também os currículos, pois na mesma palestra do Quarto Congresso Técnico Científico de Engenharia Civil, se apresentou uma visão atual de como deveriam se constituir as disciplinas que, entretanto, atualmente por falta de retroalimentação da sociedade e o conformismo da maioria dos estudantes se cala. Porém, adequar os atuais currículos escolas apenas, será um risco para o futuro. Mas é assunto para outra Fala do Presidente.
Em resumo, frente outras modalidades, como aqui citadas, o médico e o advogado, na maioria das engenharias estamos formando estudantes, isto mesmo: deveríamos formar profissionais em comportamento, e temos estudantes desmotivados e com autoestima baixa. Aí uma grande parte de esclarecer o que e como combater a desvalorização profissional e a quebra do associativismo. Esta fala deverá chegar aos olhos e ouvidos dos candidatos no Sistema CONFEA CREA para que o discursos pela valorização sejam eficazes.
Em 22 de setembro de 2020
Prof Roberto de Oliveira, PhD
Presidente 2020—2023